Lygia Clark

 

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Nasceu em 1920 em Belo Horizonte, MG. Aos 18 anos casou-se com o abastado engenheiro Aloisio Clark Ribeiro de quem herdou o sobrenome. Teve três filhos e uma pacata vida de dona de casa. Até que no parto do seu terceiro filho o chamado para a arte ou para o entendimento da sua própria existência, o “self”, fez com que mudasse radicalmente de vida. Lygia foi uma mulher tão complexa, que estou mergulhada em textos de diversos críticos, curadores, filhos, netos há algum tempo para conseguir traçar um perfil que revele sua essência como artista, ou não-artista como queria ser chamada no final dos seus dias. Viveu para arte até os 68 anos, quando faleceu de um enfarto fulminante, apesar de ter conseguido se livrar 10 anos antes do vício de mais de 4 maços de cigarros por dia, que entupiu suas artérias.

Em 1947, comunicou ao marido que iria morar no Rio de Janeiro. Convenceu a família de mudar e no Rio começou a estudar com Burle Marx e Zélia Salgado. Logo foi sozinha para Paris, estudou com Léger, Dobrinsky e Arpad Szenes. O marido tentou acompanhar essa reviravolta da esposa, mas o casamento não resistiu e os filhos também sempre ficaram em segundo ou terceiro ou em outro plano. Segundo seu filho Eduardo ela recebeu 86 apartamentos na partilha do divorcio, e foi vendendo 1 a 1 para financiar sua arte.

Lygia viveu em seu próprio mundo. O mundo de Lygia, como chamam os herdeiros e organizadores do seu trabalho, que engloba mais de 16 mil documentos. Um mundo repleto de arte e textos, onde ela buscou o entendimento do corpo, da sua sexualidade, da interação do corpo com objetos e entre corpos, com formas e texturas. Tudo para provocar um estranhamento ou sensações antes não possíveis de sentir.

A sua obra pode ser acompanhada como uma evolução em fases, começando pelo plano representado por pinturas abstratas e neo-concretas, passando pelas dimensões com as esculturas até incorporar o público nas suas terapias sensoriais. Algumas de suas criações, descritas apenas em texto, exigiam recursos ainda não existentes na época que foram pensadas. Recentemente algumas foram executadas por sua família, como o livro-obra.

Em sua série “Bichos” de esculturas maleáveis, Lygia propõe que o público crie a sua própria escultura e como os formatos são diversos, que mude de idéia e continue criando. Em Caminhando de 1963 você corta um papel em formato de oito infinitamente. Essas performances onde o público participa são mais terapias sensoriais, que arte propriamente e vieram dessa busca incessante de Clark em entender sua própria cabeça. Alguém que teve que frequentar praticamente diariamente seções psiquiátricas, que escreveu textos incompreensíveis, densos, que tinha hábitos esquisitos e ao mesmo tempo se vestia elegantemente como uma senhora da sociedade. Entrar no mundo de Lygia Clark requer um desprendimento do óbvio e uma capacidade de abstração e sensibilidade para entender alguém que estava a flor da pele com suas próprias angústias. Interessante, denso, perturbador e extremamente criativo, principalmente pelo fato dessas experiências serem de 40/50 até 60 anos atrás.

De 70 a 76 deu aula na Sorbonne em Paris. As performances eram feitas com os alunos, que em um dado momento começaram achar que eram muito erotizadas. Ao voltar ao Brasil, Lygia montou um consultorio onde atendia 4 pacientes, também usando essas técnicas que ela criou de terapia sensoriais.

Em 2012 o Itaú Cultural expôs “Lygia Clark: Uma Retrospectiva”, com curadoria de Paulo Sergio Duarte e Felipe Scovino e com a participação da sua neta Alessandra Clark como coordenadora do projeto. O Itaú fez vários vídeos-depoimentos dos curadores interessantes de assistir, pois cada um capta um lado diferente da artista. Paulo Sergio, que tem a compreensão mais densa, conheceu a artista e chegou a organizar uma exposição sua na década de 80. Ele fala da importância da participação de Lygia nessas propostas de performance, algo que hoje, não temos mais como observar. Todos pontuam o lado complexo da psique da artista. Alessandra explica que a vó deixou vários documentos em texto de obras não realizadas. Nessa exposição algumas foram concebidas seguindo as orientações de Lygia. Também abordam sua relação com as teorias freudianas. Levando para o lado da psicanálise e vendo o quão complexa é a mente dos artistas. A arte é a forma de aflorar o mais profundo dos sentimentos e como isso perturba o criador.

Até agosto o MOMA em NY estava com a exposição “The Abandonment of Art, Lygia Clark”, curada por Pérez-Oramas, com o auxilio do espólio gerido por seus filhos e netos e outros curadores. A mostra em NY reuniu 300 trabalhos da artista e abordou todas as fases de produção. Vários críticos internacionais cobriram a exposição e deixaram claro a importância de Lygia como uma das maiores artistas do século XX, mesmo sendo praticamente desconhecida até então dos new yorkers.

Torcendo para que venha ao Brasil.

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